Acidente com ônibus da linha 484 na Avenida Brasil – Rio de Janeiro

CIDADES

Quatro em cada dez multas de trânsito aplicadas contra ônibus na cidade do Rio não têm dono. Segundo o Detran, das 42.626 infrações anotadas nos primeiros quatro meses do ano, 42,24% foram, na verdade, uma punição às empresas que não indicam o nome do condutor ao volante. Esse pode ser o caso do motorista André Martins Navarro, que provocou o acidente no qual morreram cinco pessoas e outras 20 ficaram feridas, na última terça-feira, na Avenida Brasil. Mesmo sem multas aplicadas em seu nome, ele já respondia a dois processos judiciais relativos a colisões com vítimas. 
Assim, foram registradas de fato 24.619 multas nas ruas. Procurada, a Rio Ônibus nega se tratar de uma estratégia para evitar que motoristas fiquem impedidos de dirigir por atingirem o limite de 20 pontos no prontuário de infrações do Detran.
De acordo com o departamento de trânsito, as principais multas aplicadas são por não identificação do infrator (18.007), excesso de velocidade acima de 20% do limite permitido (11.313) e avanço de sinal (5.002).
Ao todo, há 17 mil motoristas no Rio para uma frota de 8.600 veículos. A Rio Ônibus, o sindicato das empresas, atribui a falta de identificação dos infratores a problemas burocráticos. Segundo os empresários, há uma rotatividade, fazendo com que esses condutores não sejam encontrados para assumir a responsabilidade pelas multas.
Procurada, a City Rio, dona do ônibus da linha 484 (Olaria-Copacabana) acidentado na Avenida Brasil, não se pronunciou.
Inquéritos e processos
Se as empresas não indicam se André Martins Navarro estava na direção do ônibus em alguma infração de trânsito, a polícia pode determinar que ele conduzia o coletivo em pelo menos dois acidentes registrados com vítimas. André responde a processos de lesão corporal culposa provocada por colisão de veículo.
De acordo com informações oficiais, em 2010, ele conduzia um ônibus num acidente ocorrido na Linha Vermelha, próximo à Ilha do Fundão. Neste ano, um novo acidente também deixou feridos na Rua Joaquim Palhares, no Estácio.
O ônibus da linha 484 estava acima da velocidade permitida no momento do acidente na Avenida Brasil, no Caju. O tacógrafo do veículo indica que o coletivo trafegava a quase 80km/h quando invadiu a calçada e bateu num muro, segundo informações do “RJTV”. A velocidade máxima permitida para ônibus na pista é de 60km/h.
Em depoimento, o motorista André Martins Navarro, de 34 anos, disse que não poderia estar dirigindo a mais de 80km/h, porque o coletivo possui um limitador de velocidade. Ele também confirmou que quase provocou um acidente ao fechar a passagem de um táxi, minutos antes do acidente, no Aterro do Flamengo.
Motorista lamenta por mortes
Ele afirmou que isso só aconteceu por causa de um problema no coletivo, que o impossibilitava de ouvir a campainha acionada pelos passageiros. O motorista disse, então, que precisava olhar constantemente para o painel para ver se havia passageiros solicitando a parada do ônibus para desembarcar.
André não sofreu ferimentos graves. No corpo, só os hematomas nas pernas e nos braços e ferimentos provocados pelos vidros estilhaçados lembram o acidente. A maior sequela, de acordo com familiares, será psicológica.
Casado há 15 anos com a dona de casa Fátima dos Santos Navarro, André mora com a mulher, a enteada de 18 e os dois filhos do casal, um adolescente de 12 e uma garota de 6. E é com a família que ele está buscando amparo.
Ele passa a maior parte do tempo dormindo, já que está à base de medicamentos. E sempre que acorda, chora. À mulher, diz que não pretende mais trabalhar como motorista de ônibus. André deve ir a um hospital ainda hoje, para fazer uma nova avaliação.
— Ele não quer mais saber disso, não. Quando lembra do acidente, ele começa a chorar. Ele está muito abalado e toda a família também — conta a mulher.
Segundo ela, André ficou ainda mais sensibilizado quando soube que havia duas adolescentes entre as vítimas do acidente:
— Ele disse que preferia que tivesse acontecido com ele. É uma pessoa do bem.
Amigas enterradas juntas
Amigas inseparáveis Thaís Fidélis da Silva, de 13, e Kátya Cândido, de 15, partilharam alegrias e tristezas, como qualquer adolescente. Ontem, elas continuaram juntas e vão permanecer assim na memória de quem gosta das jovens. Entre as capelas A e C do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, os parentes das duas dividiam sua dor. Apenas alguns minutos e alguns metros separaram a despedida das duas jovens. Para homenageá-las, camisetas com a foto das duas de rosto colado e a mensagem “saudades eternas”.
— Elas gostavam de sair juntas e de se divertir. Estavam sempre juntas. A pior coisa é ver a pessoa que você ama estirada no chão — conta Bruna da Silva Pinto, de 14 anos, prima de Kátya e amiga das duas jovens mortas.
Para o pai de Kátya, a dor era ainda maior. Além da filha, ele perdeu a mulher, Monique Rocha Marques, de 24 anos. Muito abalado, ele foi levado em uma cadeira de rodas até a sepultura de Kátya. O acidente acabou impedindo, ainda, uma comemoração da família. Ontem, o irmão da estudante, Caio, completou 10 anos.
— O que era pra ser um dia de festa, virou um dia de luto. O irmão devia estar comemorando e está enterrando a irmã — disse a avó paterna de Kátya, Marinalva Gomes.
Morando em Pernambuco, Roberto Brito da Silva, de 38 anos, veio ao Rio assim que soube da notícia da morte de Thaís. O pai da jovem prefere lembrar dos momentos que eles passaram juntos:
— Ela conseguia fazer amizade muito rápido com as pessoas. Vão ficar na memória os momentos bons e as alegrias que ela me deu. Vou sentir muita saudade.
O ônibus bateu num ponto na Avenida Brasil, no Caju, na noite de terça-feira, deixando cinco mortos e mais de 20 feridos. Além de Thaís e Kátya, morreram Maurício dos Santos, de 34, Monique Rocha Marques, de 24, e Márcia Pacheco de Oliveira, de 33.
 
Distração ao volante
Em depoimento à polícia, o motorista disse que conversava com uma passageira, sentada no capô do motor do coletivo, no momento do acidente. Ele se distraiu e, para não bater numa van, desviou e perdeu o controle. O caso é investigado por policiais da 17ª DP (São Cristóvão), que já ouviram 35 depoimentos de vítimas e testemunhas.

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